Política

Uma noite de domingo com a Sra. Rousseff

Eu tinha preparado algo diferente para hoje, mas o que se viu no domingo foi uma sucessão de tragédias e eu não poderia deixar de comentar aqui. Então, vamos lá…

Caricatura Dilma RousseffO pronunciamento sempre tão eloquente da presidenta Dilma reforçou, para mim, o que penso dela desde que foi candidata pela primeira vez: ela é extremamente despreparada e dissimulada. Durante 15 minutos a presidenta falou verdades, mentiras, acusou, se defendeu e TENTOU, em caixa alta e negrito mesmo, nos transmitir a ideia de que estamos apenas enfrentando uma pequena turbulência passageira e que a culpa de todo o clima de pessimismo é da imprensa e da oposição. Dilma está cometendo o mesmo erro de seu antecessor que disse, em 2008, no auge da crise mundial, que o tsunami que atingiria as grandes potências econômicas chegaria ao Brasil na forma de uma “marolinha”. Aparentemente, errar é humano e insistir no erro é coisa de presidentes. Infelizmente Dilma não possui os traços populistas de Lula e, dessa forma, ao cometer uma sucessão de erros, é sempre fuzilada pelos críticos e pela oposição. Lula não sofria com isso porque tinha os traquejos necessários aos poderosos. Lula era um líder. Dilma é uma chefa.

279924_Papel-de-Parede-O-Chapolin-Colorado_1280x1024O discurso diz verdades, como o fato de pela primeira vez passarmos por um momento tão conturbado sem corrermos o risco de quebrar. Outras verdades em seus dizeres dizem respeito ao baixo índice de desemprego, investimento nas políticas sociais e maior nível de renda da história do país. Infelizmente essas três verdades de Dilma já começam a sofrer. O desemprego cresceu, a renda estagnou e o investimento no social não consegue acompanhar a inflação. O restante do discurso da presidenta é, infelizmente, cheio de leviandades, frases jogadas ao vento, desculpas esfarrapadas e cutucões na oposição. Ela disse que estamos “implantando as bases para enfrentar a crise e dar um novo salto no seu desenvolvimento“. Que bases? Não diz. Fala que está tomando “medidas concretas e corajosas, em todas as áreas“. Que medidas? Não fala. Cita a lei do feminicídio, passa pelas PPPs (que no molde como são feitas são um fracasso), esboça falar do suportável aumento de impostos (segundo ela) e… Ela joga as coisas, cita, não explica, não detalha e pede que acreditemos nela e que sejamos pacientes. Ela acha que é o Chapolim. Já consigo imaginá-la dizendo “palma, palma, não priemos cânico” e depois, ao sair pela porta, olhar para traz e mandar: “sigam-me os bons!”

Me incomoda muito na presidenta o fato de, em momento algum, assumir que errou. Caso viesse a público e assumisse os equívocos de sua política econômica desastrosa, das más escolhas para os infinitos ministérios, para a falta de visão do Governo, os atos de corrupção escandalosos por parte de seus aliados, pedisse desculpas à população e transmitisse uma imagem de uma líder forte e capaz de reverter o jogo, nós a aceitaríamos e esqueceríamos todos seus equívocos. Mas ela faz justamente o contrário. Busca sempre o confronto e erra, sempre. Como diria Lula, nunca houve na história desse país alguém que errasse tanto. Quando fala dos erros cometidos no passado, claramente tentando cutucar seus opositores, Dilma tenta passar a ideia de que tem o direito de errar, pois seus adversários erraram. Isso é mesquinho. Demonstra a falta de preocupação com o bem estar da nação e o compromisso único com a manutenção do poder.

clayton-150304De tudo que foi dito, duas coisas me saltaram aos olhos e ouvidos. Primeiro, a falta de conhecimento histórico e a incapacidade de entender como se dá a movimentação do capital pelo globo. Nas décadas de 1960 e 1970 o Brasil teve um boom desenvolvimentista. Foi nessa época que criamos e construímos a maior parte da nossa infraestrutura. Como isso se deu? Simples, a Crise do Petróleo desencadeou uma massiva fuga de capital dos países desenvolvidos. Como sempre acontece em momentos de crise, esse capital migrou para os países subdesenvolvidos. O Brasil tinha um excesso de capital e gastou boa parte dele construindo e aprimorando sua infraestrutura. É lógico que o capital não vem de graça e nessa época o Brasil aumentou descaradamente sua dívida. Quando os países desenvolvidos se recuperaram, na década de 1980, o capital que circulava por aqui bateu asas e voou de volta para casa. Pra variar, não nos precavemos, não estávamos preparados para isso e enfrentamos a maior crise de nossa história. Com essa última crise está acontecendo a mesma coisa e, pela segunda vez, demos de ombros para essa realidade e estamos agora pagando o pato. Quando Dilma diz que não era possível prever que a crise duraria tanto, o que ela faz, na verdade, é não admitir o despreparo dela e de seu antecessor para enfrentar a inevitável fuga do capital estrangeiro. Se Obama diz que a sombra da crise e o pior já passou, é porque essa sombra foi para algum lugar. Adivinhe para onde… Todo mundo gosta de praia, até a crise.

Azaghal Jovem Nerd - Protocolo BluehandO segundo aspecto do pronunciamento e o que mais me deixou fulo da vida, é quando a presidenta fala de empreendedorismo. Dilma toma para sim os méritos únicos e exclusivos daqueles que têm a coragem de enfrentar o ambiente hostil proporcionado pelo próprio Governo. Ela se quer foi capaz de realizar uma reforma tributária. Pior, se quer foi capaz de discutir o assunto. O empreendedor é o herói moderno brasileiro. Enfrenta o sistema na raça e na coragem. Não tem nenhuma ajuda. E não me venha falar de BNDES. Se tentar abrir um negócio, conseguirá, com muito custo, R$15 mil a juros de 9% ao ano. Com essa quantia você consegue, no máximo, comprar um carro popular usado, e de um modelo já bem antiguinho. Agora, Dilma vem falar que espera mais dos empreendedores, que espera por mais empreendedores. O que ela faz para ajudar nesse sentido? Aumenta os impostos. É como se um General , à beira da piscina de sua casa em um belo dia de sol, pedisse por rádio às suas tropas mambembes e munidas com canivetes que enfrentassem de peito aberto um exército inimigo armado com bazucas.

O pior de tudo, é que eu queria, do fundo do coração, que Dilma repensasse suas escolhas nos últimos 4 anos e fizesse um segundo mandato para a história. Eu não acreditava que ela pudesse, mas no dia seguinte à sua vitória nas urnas, torci para que isso acontecesse. Torci por ela porque isso significa torcer pelo Brasil. Por mim mesmo. Infelizmente a torcida por algo é a falta do racionalismo e o exagero da paixão. A paixão não cabe na política.

A noite de domingo já seria ruim com o pronunciamento da chefa, mas o que se seguiu foi para premiar com um Oscar a tragicomédia que vivemos. Panelaços, buzinaços, luzes que se acendiam e se apagavam. Meu deus…

coxinhas_rea_asEnquanto as coxinhas, no feminino, fazem nossa alegria nas cantinas, botecos e festinhas, os coxinhas, no masculino, nos passam vergonha. Não que eu seja contra protestar. Temos mesmo que protestar. Mas protestar pelo simples fato de torcer contra o outro é muita mesquinhez. Protestar por protestar é mostrar que você odeia algo sem se quer saber o porquê disso. Acho que as pessoas poderiam pelo menos aprender a protestar e a se organizar. Nessa última semana completou-se 50 anos da marcha histórica de Selma. Os brasileiros se quer sabem da existência dessa manifestação que ocorreu nos EUA em prol da equidade social, mas se soubessem, poderiam tirar lições valorosas de como e do porquê de se manifestar. Tivemos um momento especial em junho de 2013. Tudo começou pela indignação das pessoas ao tratamento hostil dos policiais para com os manifestantes, pacíficos. Foi algo espontâneo e coletivo. No início. Depois desandou.

SOCRATES (1)Pelo que os coxinhas de domingo, mártires do buzinaço, protestam? A maioria cita a corrupção como sendo a gota d’água. No entanto, sabem que existe um lava-jato mas não sabem dizer quem é o dono lugar, quem lá leva o carro para lavar, como funciona o processo de limpeza. Apenas viram na televisão que existe um lava-jato. E vou dizer: protestar contra corrupção é complicado. A corrupção é praticada por todos, independente de partido político. Melhor protestar por algo que vai impactar de forma mais imediata a situação do país. Melhor protestar por decisões políticas eficazes e eficientes e não meramente, políticas. Onde iremos parar com discursos vazios carregados de ódio? Que mudanças em nossa sociedade conseguiremos realizar dessa forma? Vejo pedidos infundados de impeachment, jovens, filhotes da revolução, pedindo a volta da ditadura militar. Por que nos deixou, Sócrates? Seria tão bom vê-lo nesse momento nos dando uma aula sobre democracia…

Já não estivesse tudo ruim, leio isso. Mais uma vez os governistas, assim como na tal manifestação de junho de 2013, seguindo os ensinamentos da chefa, fecham os olhos para o evidente descontentamento popular e se defendem atacando. Novamente, ao invés de botar o rabo entre as pernas, a viola na sacola, se levantar, olhar para os lados, entender onde está e o que se passa em torno de si, os governistas fazem o contrário. Imergem ainda mais no seu mundo maravilhoso e particular, se trancam atrás de suas muralhas e atiram flechas de cima delas contra quem quer que ouse passar por perto. Já faz muito tempo deixou de ser uma disputa de classes. Acho que já nem é mais pelo poder. A luta agora é para ver quem é mais burro. No momento não tenho dúvidas: quem está perdendo é o Brasil.

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